sábado, 28 de junho de 2008

Fujamos da tentação de explicar o que não se explica

Saudações Tricolores!

Amigos, gostaria de reproduzir neste blog um texto do amigo tricolor Beto Sales. Tem tudo a ver com o nosso momento. Como bem disse ele ao me autorizar essa postagem, VAMOS COM TUDO!

Tenho cá minhas bolações com torcedor cerebral. Escorado em sua base de dados, construída minuciosamente ao preço de noites indormidas, o torcedor cerebral esgrima planilhas com o desembaraço de um deputado no guichê do Banco Rural. Ao primeiro sinal de uma observação incorreta de um incauto interlocutor, o cerebral desfia seu torvelinho de números e fatos como a provar que o pobre coitado que ousou cometer uma singela opinião se trata de um energúmeno profissional

São os chatíssimos apolíneos na classificação mitológica de Niestzche. Como posso atribuir importância a quem no estádio, antes de emitir um sonoro filho-da-puta, consulta discretamente seu lépi-tópi? Aliás, lépi-tópi e futebol não combinam, definitivamente. É só se lembrar do indefectível Kleber e sua teoria dos pênaltis excelizados. O torcedor que é torcedor requer ser pensado pelo prisma da loucura, da insanidade, da recusa feroz a teorias de mestrado de varejo. Ou alguém acha normal o que fazemos em nosso ofício de torcer? Um simplista poderia simplesmente reduzir todo o caudal de emoções explosivas que encenamos por onde deitamos nossa obsessão à catarse. É muito mais que isso.

Em nossos espasmos de dia-de-fúria, aqui e ali estendemos em riste o dedo médio quando alguém nos fecha no trânsito ou substituímos por um sussurro impublicável o instinto primitivo de matar alguém que fura a fila e exibe intimidade patética com o caixa ou o métre. Isso é catarse, uma espécie de apelido freudiano do desabafo. O torcedor vai além em sua sanha delirante. Vê-se no gramado batendo o pênalti perdido; passa e repassa em voz murmurante a escalação perfeita; estende a mão trocada espalmando a bola que segundos atrás entrou feito um foguete no véu de nossa virgindade renovada. Inunda de inconveniência qualquer ambiente pateticamente esnobe ou pseudocultural, ao retrucar o mauricinho que insiste em decodificar Da Vinci com um "cê viu o gol do Dodô, véio

Nós, torcedores, só mantemos os pés no chão das imposições da vida dos gentios por tediosos espasmos, e logo a seguir voltamos abduzidos à nossa loucura particular, onde não sabemos distinguir prazer de angústia. Não é por outro motivo que um Nelson, um Zé Lins, um Hornby, um João Cabral, e tantos intelectuais que não precisam mais bater ponto na aceitação alheia jamais se imiscuíram em pevecês da vida, que ganham pra cagar regra. Fico imaginando um Sócrates folosofando de calcanhar ou mesmo um Aristóteles debruçado sobre a fenomenologia dos erros de passe. Que fique bem claro: quer deitar teorias quânticas ou epistemológicas, ou mesmo cartesianas de almanaque, que procure outro rumo. Quer racionalizar? Vá aprender Alemão.

Não se explica o que explicável não é: pro caralho com teorias. É entrar em campo e foder com a alma dos escrotos que ensaiaram olé antes mesmo de um quarto de cena cravada. Tenho a convicção de 90 mil razões.Vai dar Fluminense e pronto. Foda-se o resto. (Beto Sales)

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